Fluxo

Imagino ser guarda-chuva, teoria, truque, mulher.

Mas a cada instante a imaginação se refaz.

Isso tudo se evapora, vira névoa, vira história.

Agora sou pedra, sal, parafuso, incógnita.

O tempo e a substância vivem em ebulição.

As vísceras são voláteis como a existência.

Tudo que insiste um dia fluirá. Tudo que inexiste finda.

O que sou, sonho e vivo. O que sou é um sem lugar.

Quando escrevo, invento aquilo que é sentido e por vir.

Subverto-me e me multiplico em passados e futuros.

Gosto de versos gasosos e  das telas de Picasso.

Gosto de experimentar o fluxo do movimento.

Gosto de diluir palavras  e comer tapas com os amigos.

Trago nas costas  as dores e prazeres do mundo.

Nas vértebras exponho desejos. Não reclamo das fraturas.

Sigo sem rota e me perco. Tenho siso e humor  armazenados.

Se sigo na contramão do bom senso, invento outros caminhos.

Na taça da alma bebo alegria e tristeza. Bebo  ficções e abismos.

Em mim tudo se mistura: sensações e subterfúgios, amores e carinho.

Embriago-me de impulsos perversos e pouco afáveis. Por que não?

Evoé Baco! Evoé Poesia ! Saúdo as partículas do singular e do universal

Celebro o vermelho da vida. O sangue  que corre veloz é mestiço e único.

Gosto de ter veias que se misturam com as coordenadas da imaginação.

Gosto da matéria, da carne, do tempo e do invisível.

Gosto do aqui e do agora, e também do amanhã …

Amanhã, nada serei? Certamente serei pó ou coisa perecível.

Amanhã  não terei tradução. Serei raio e tempestade. Ou puro silêncio.

 

 

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