Na tarde de 13 de outubro de 2006, em Havana, subi oito andares de escadas para conhecer a residência de Pedro Juan Gutiérrez. O cenário parecia saltar das páginas de um livro de ficção do escritor cubano. O elevador não funcionava, e as ruínas da velha cidade impregnavam cada degrau. Ali, num terraço com vista para o Malecón, encontrei o ambiente familiar onde Pedro Juan vive com sua esposa e sua a filha caçula. O papo foi regado com Tu-Cola, refrigerante cubano que imita o paladar do imperialismo ianque.
Nosso primeiro encontro tinha sido no centro de Havana. Passeamos pelas ruas e sentamos numa praça perto do Capitólio para conversar. Em cada esquina podíamos ver policiais de prontidão. Ficamos em estado de alerta. Era início setembro de 2006, e as notícias sobre a enfermidade de Fidel Castro corriam soltas pelo mundo. Ninguém sabia a real gravidade da doença do caudilho revolucionário. Tudo era especulação.
Nos encontros seguintes, Pedro Juan começou a soltar a voz. Eu tentava conhecer o escritor e a realidade da ilha que o envolvia. Pouco a pouco fui descobrindo um país mergulhado numa grande efervescência política e cheio de ambiguidades sociais. Descobri que o país não comporta rótulos e definições exatas.
A conversa que aqui transcrevo nunca foi publicada. Foi um papo entrecortado por risos e revelações. Nos anos 90, Pedro Juan sobreviveu com um salário mensal que correspondia o valor de uma dúzia de ovos. É possível acreditar? No contexto cubano, sim. No papo transcrito, Pedro Juan fala sobre miscigenação, racismo, a vida em Cuba e desmistifica a visão heróica que se tem do povo cubano. Ela também ressalta as especificidades que marcam sua obra literária.
Leia a entrevista aqui :pedro juan gutierrez – papo em havana